Cicloviagem/ Bike Touring – Dia 13: Rio das Flores – Jatahy (RJ), Brasil

Terminado o café da manhã, arrumei tudo e antes de partir de Rio das Flores ainda passei no mercado da D. Rosa pra que ela visse que “estava levando o frigobar amarrado na baique”. Rimos muito.

Despedindo de Rio das Flores, RJ

Despedindo de Rio das Flores, RJ

Depois da grande subida na saída da cidade, o trajeto pela RJ-135 foi basicamente de descidas com a altitude decrescendo até menos de 300m já que estava descendo uma das vertentes do grande vale do Rio Paraíba do Sul em direção à Andrade Pinto e depois Cavaru (RJ).
A RJ-135 apesar de ser asfaltada é uma estrada com muito pouco movimento, junto à natureza, que corta antigas fazendas de café com arquitetura belíssima e ainda preservada. Vale a pena optar por pedalar por ela ao invés de pegar uma grande rodovia, como a BR-492, por exemplo.

Viagem junto à Natureza

Viagem junto à Natureza

Estive refletindo sobre a questão de pedalar junto à Natureza onde, alem do esforço físico, somos constantemente confrontados com os limites, desafios, dificuldades, externos e internos. Temos que encará-los ultrapassa-los, transcende-los por conta própria, usando meios e habilidades disponíveis, buscando coragem, paciência e força no interior de nós mesmos.

Por que fazemos esta opção de “sair da zona do conforto” ? Acho que queremos, inconscientemente, aprender, desenvolver habilidades, sabedoria e novos conhecimentos. Assim, de certa maneira, estamos nos preparando intuitivamente pra poder fazer uma revolução interna e externa, criar soluções autossuficientes, mudar a sociedade dentro da dimensão de atuação de cada um. Acho que abemos todos, muitas vezes inconscientemente, que este é nosso papel como ser humano.

E todo este desenvolvimento me parece muito importante já que vivemos atualmente numa sociedade que é levada à acomodação, à procrastinação. Com toda a informação e propaganda gerada por meios das redes sociais somos induzidos a uma atitude puramente contemplativa, de aceitação das injustiças, o que não deveria acontecer. Portanto esse aspecto de auto-conhecimento e desenvolvimento interior de discernimento, consciência, habilidades e tomada de decisões da cicloviagem é muito importante no meu ponto de vista.

Antigas Fazendas, algumas ainda produtivas

Antigas Fazendas, algumas ainda produtivas

Passando por antigas fazendas de café e pequenas estações de trem , cheguei em Cavaru. A referência é o Bar do Chiquinho que tem um pouco de tudo incluindo antigas moringas de barro as mesmas que minha bisavó Georgina que nasceu e viveu ali perto, em Sardoal, usava pra manter a água sempre fresquinha. Foi lá que tomei aquele sorvete de milho verde que só se encontra nas cidades do interior.

Conversando com Chiquinho perguntei sobre a melhor rota para chegar em Itaipava. Mais uma vez aconteceu: as pessoas tem a tendencia de indicar aquelas rotas que estão mais acostumadas a fazer, por habito e na maioria das vezes de carro, e que nem sempre é o caminho mas direto, mais plano e o melhor pro ciclista que, como eu, não se importa em ir pela estrada de terra.

Estação ferroviária de Cavaru (Paraíba do Sul)

Estação ferroviária de Cavaru (Paraíba do Sul)

Então Chiquinho me indicou um caminho que passava por Werneck, a 5km dali, já bem perto de Paraíba do Sul, e por Bom Jesus do Matosinhos onde, segundo ele tem a maior festividade católica do Estado do Rio de janeiro. Talvez por isso ele tenha indicado este caminho. E eu fui.

Quando já estava em Werneck, conferi no app GPX Viewer e verifiquei que por ali ia dar uma volta enorme e pedalar muitas dezenas de quilômetros a mais até chegar na BR-040, em Itaipava, distrito de Petrópolis, RJ.

O percurso Rio das Flores – Jatahy (RJ): http://bit.ly/2DgxOR9

Voltei todos os 5km que já havia pedalado de Cavaru à Werneck, e peguei a outra rota, indicada pelo GPS, e que passava bem em frente ao Bar do Chiquinho, de onde havia saído.

Rio das Flores (RJ) - Jatahy (RJ)

Rio das Flores (RJ) – Jatahy (RJ)

Mais uma vez me dei conta que é bom conversar com os locais mas nem sempre suas indicações de rota, são as melhores quando estamos de bicicleta. O GPS tem uma visão melhor e mais geral sobre as melhores rotas, mais planas, mais diretas.

À esta altura já eram mais de 16h. Pedalei subida acima pela nova estrada de barro por duas horas mais ou menos, até que cheguei em Jatahy. Parei um pouco e percebi uma pequena paróquia azul. O céu estava negro com previsão de chuva pesada.

Comecei a conversar um pouco com um morador local e foram aparecendo outros . A maioria crianças e adolescentes curiosos pelo ser que apareceu de bicicleta do nada e parou ali. Fiquei conversando e enrolando enquanto arrumava o bagageiro que, mais uma vez, estava balançando. Quando a curiosidade diminuiu e os moradores se afastaram, aproveitei e subi discretamente a bici pelas escadas da igrejinha e encontrei um patio interno coberto, limpo e com água. Ideal pra passar aquela noite protegido da chuvarada que já estava começando.

Como não me viram subir da estrada até ali, não havia o risco de questionarem a minha ocupação do espaço. Tudo correu bem. Cozinhei e estendi meu saco de dormir só observado por um casal de sabiás que fez seu ninho no alto de umas colunas da paróquia.